“A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados do Iguatemi, havia o ante-projeto presente no próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno no Iguatemi. Deste modo, a casa do Oscar antes de existir foi demolida, ou ficou intacta, suspensa no ar como a casa do beco de Manuel Bandeira. Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra a minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: ‘Só volto pra casa quando for a casa do Oscar!’
Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi um seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco. Decidi a ser o Oscar eu mesmo, regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia que me reprovou no exame oral, respondi calado: ‘Lá em casa tem um canudo com a casa do Oscar...’
Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música de Tom Jobim. Música de Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar.”
Chico Buarque de Holanda
sábado, 6 de setembro de 2008
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